Você já parou para se perguntar quando foi que um smartphone passou a fazer parte de sua rotina? Ou, melhor ainda, já parou pra pensar quando se deu conta da necessidade de ter um?
Me recordo que meu primeiro smartphone foi comprado em 2008. Era um Nokia N95, porém, ele ainda não era exatamente “smart”. Não tinha a interatividade e, principalmente, a funcionalidade que os smartphones que conhecemos hoje têm. Foi em 2009, com um iPhone 3GS, que realmente passei a estar ligado ao mundo vinte e quatro horas por dia, nos sete dias da semana.
De lá pra cá – na verdade, desde 2007, quando a Apple lança seu primeiro iPhone, que revolucionou o conceito de smartphone –, a tecnologia apenas evoluiu. Há menos de vinte anos os telefones serviam apenas para fazer ligações e, desde então, passaram a ser uma forma de comunicação mais ampla com o mundo. Navegadores de internet, redes sociais, aplicativos financeiros, de saúde, de economia, de notícias e, por que não, de educação também. Apenas na Google Store podemos encontrar mais de trezentos aplicativos direcionados para a educação.
Em poucas décadas evoluímos do computador pessoal para os smartphones e tablets, e hoje já estamos nos assistentes pessoais acionados por voz, como a Alexa, da Amazon, e a Siri, da Apple. Ao comando do nome das assistentes, estas respondem a perguntas, fazem pesquisas, leem notícias, ligam a televisão, programam o ar condicionado, entre outras dezenas de funções.
Com tanta tecnologia presente em nosso dia a dia, era de se esperar, então, uma transformação também na educação – afinal, meios para isso nós já possuímos. Ocorre, no entanto, que a sala de um aula de um século atrás não difere muito da sala de hoje que encontramos hoje em boa parte das escolas. Com poucas variações, nada mais são do que espaços fechados, com carteiras enfileiradas e uma lousa para que o professor possa escrever. Elas foram concebidas para que fosse padronizada a forma de ensinar e de testar (Horn e Staker, 2015). O conhecimento é, há séculos, centrado no professor. Se fossemos dar nome a esta metodologia, poderíamos chamá-la de passiva.
“A escola de massas, em que o professor ensina em idêntico tempo, no mesmo lugar, dezenas de alunos enfileirados, nasceu na Revolução Industrial e permanece até nossos dias. Em dois séculos, após o início da revolução, modificou-se o perfil dos estudantes, transmutou-se a sociedade, redefiniu-se o mercado de trabalho, transfigurou-se a tecnologia, contudo a escola continua com estudantes perfilados ouvindo passivamente a exposição de conteúdos por meio da prelação de um professor.” (Fava, 2018, p. 105)
Da mesma forma que a tecnologia evoluiu, os jovens também se transformaram, a sociedade se transformou. Hoje, em 2020, se faz necessário deixar essa metodologia passiva para trás. Mais do que nunca, fala-se em um protagonismo dos estudantes, em um professor mediador do conhecimento, e não mais detentor exclusivo deste. Estamos falando de metodologias ativas em educação.
Mas, afinal, o que são metodologias ativas?
Para Bacich e Moran, “metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. As metodologias ativas, num mundo conectado e digital, expressam-se por meio de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações. A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis e híbridos traz contribuições importantes para o desenho de soluções atuais para os aprendizes de hoje.” (2018, n.p.)
Repensar a educação é reconhecer que nem todo mundo aprende da mesma forma, ao mesmo tempo. É reconhecer que pessoas diferentes podem ter necessidades diferentes para aprender, e o farão em tempos diferentes também. Repensar a educação é parar de tratar todos como iguais e personalizar o ensino, da forma que melhor se adeque para cada indivíduo. O que para um funciona, pode não funcionar para outro, porém, o importante é que o conhecimento seja, de alguma forma, transmitido e assimilado por todos.
“A expressão ensino híbrido está enraizada em uma ideia de educação híbrida, em que não existe uma forma única de aprender e na qual a aprendizagem é um processo contínuo, que ocorre de diferentes formas, em diferentes espaços.” (Bacich, Neto e Trevisani, 2015, n.p.)
O estudante assume, então, uma postura mais participativa que criará oportunidades para a construção de seu conhecimento. O professor passa a ser um mediador no processo de aprendizagem, organizando e direcionando atividades que se adequem mais ao estudante.
Tá, eu já entendi o que são metodologias ativas. Mas, e que papo é esse de ensino híbrido?
O ensino híbrido, ou, em inglês, blended learning, baseia-se no pressuposto de que não existe uma única forma de aprender. O conhecimento não é mais transmitido unicamente pelos professores e por materiais didáticos, mas também por pares, sites, aplicativos, blogs e experiências.
“A definição de ensino híbrido é um programa de educação formal, no qual um estudante aprende, pelo menos em parte, por meio de ensino on-line. Nesta modalidade, o aluno exerce algum tipo de controle em relação ao tempo, ao lugar, ao caminho e/ou ao ritmo, e as atividades são realizadas, pelo menos em parte, em um local físico supervisionado longe de casa. As modalidades, ao longo do caminho de aprendizagem de cada estudante em um curso ou uma disciplina, são conectadas para fornecer uma experiência de aprendizagem integrada.” (Horn e Staker, 2015, n.p.)
É importante a compreensão, por parte de professores, que a cultura do ensino híbrido deve ser implementada, educando o estudante a utilizar seus recursos tecnológicos para uso também acadêmico. É um processo de adaptação de ambas as partes, e que envolve também os pais e responsáveis pelas crianças. Por não serem de uma geração que já nasceu ligada à internet, muitas vezes estes pensam que a criança que está ao telefone celular não está produzindo, não está fazendo algo útil.
“Cultura é uma forma de trabalhar em conjunto para alcançar objetivos comuns seguidos com tanta frequência e com tanto sucesso que as pessoas nem mesmo pensam em tentar fazer as coisas de outra maneira. Se uma cultura se formou, as pessoas, de forma autônoma, fazem o que precisam fazer para serem bem-sucedidas.” (Schein, 2009, apud Horn e Staker, 2015, n.p.)
O ensino híbrido é, portanto, uma mudança cultural na forma de aprender, e o reconhecimento de que o conhecimento, no século XXI, está muito além da sala de aula.
Gostei de conhecer sobre o ensino híbrido. Como faço para implementá-lo em minha escola?
Quando falamos em blended learning, estamos falando em multiplataformas muito mais do que em uma receita de como se executá-lo. Com a mudança da cultura, as tecnologias tendem a ser mais aceitas, tanto em sala quanto fora destas. A sala de aula vira então um ponto de encontro para esclarecimento de dúvidas e, principalmente, se transforma em um ambiente de vivências e experiências.
A nova escola deve estar atenta a estas necessidades de cada aluno, às suas particularidades, e o professor passa então a ser um mediador do conteúdo que chegará ao aluno, que terá um papel ativo em sua própria aprendizagem.
Daqui um tempo, não mais se falará em educação presencial, educação a distância ou mesmo em educação híbrida. Com a assimilação das tecnologias no dia a dia, falar-se-á em educação apenas, e será natural que esteja seja multiplataforma.
REFERÊNCIAS
Andrea, F. and Carolina Costa, C. 2018. Metodologias Inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. 1st ed. São Paulo: Saraiva Educação.
Bacich, L. and Moran, J. 2018. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. 1st ed. Porto Alegre: Penso.
Fava, R. 2018. Trabalho, educação e inteligência artificial: a era do indivíduo versátil. 1st ed. Porto Alegre: Penso.
Horn, M. and Staker, H. 2015. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. 1st ed. Porto Alegre: Penso.
Neves, A. 2017. 10 Anos De Iphone: Veja A Evolução Dos Modelos E Os Preços De Lançamento. [online] Canal Tech. Available at: <https://canaltech.com.br/smartphone/10-anos-de-iphone-veja-a-evolucao-dos-modelos-e-os-precos-de-lancamento-96070/> [Accessed 12 June 2020].
Oliveira, M. 2016. 300 Aplicativos Educacionais Abertos Para Usar Em Sala De Aula - PORVIR. [online] PORVIR. Available at: <https://porvir.org/300-aplicativos-educacionais-abertos-para-usar-em-sala-de-aula/> [Accessed 12 June 2020].